Desde a primeira vez que se observou a prática de product placement (PP) em filmes como Mildred Pierce, a integração sutil de marcas em enredos se tornou uma estratégia cada vez mais adotada.

Mudanças com o Tempo

Nos anos 90 e início dos anos 2000, os DVRs (gravadores de vídeo digitais) transformaram a forma como consumimos televisão, oferecendo aos telespectadores a opção de avançar rapidamente pelos comerciais. Estimativas indicam que cerca de 50% dos telespectadores aproveitavam essa funcionalidade para evitar anúncios. Além disso, um amadurecimento na percepção social tornou a audiência mais crítica e impermeável aos argumentos dos comerciais de break. Estes, muitas vezes percebidos como intrusivos e distantes da realidade, enfrentavam resistência crescente. Nesse cenário, o product placement (PP) emergiu como uma estratégia crucial para anunciantes e publicitários, buscando maneiras mais sutis e integradas de promover produtos e marcas.

A Trip to the Moon – Filme de 1902, onde se registrou
a primeira ação de product placement

A revolução não parou por aí. As plataformas de streaming, que surgiram no cenário da mídia no final dos anos 2000 e início dos anos 2010, rapidamente ganharam tração e se tornaram a principal forma de consumo de conteúdo para muitos. Em 2020, a Netflix registrou impressionantes 231 milhões de assinantes globais, e a Amazon Prime Video não ficou muito atrás, com mais de 195 milhões de assinantes. Esses números evidenciam um declínio notável na TV tradicional e a ascensão meteórica do streaming como principal forma de entretenimento.

Além disso, o advento da era digital trouxe consigo uma série de benefícios para os consumidores, incluindo portabilidade, interatividade e mobilidade. Agora, os espectadores podem assistir ao seu conteúdo favorito em qualquer lugar, a qualquer momento, e em qualquer dispositivo, desde smartphones a tablets e laptops. Essa transição não apenas alterou a forma como consumimos conteúdo, mas também redefiniu as estratégias que os anunciantes precisam adotar para alcançar seu público-alvo de maneira eficaz.

O Mercado e Novas Oportunidades

A era digital trouxe uma série de transformações no mercado de entretenimento e publicidade, e o mundo dos games é um exemplo destacado dessa revolução. Em 2020, o mercado global de games atingiu uma marca impressionante de $159 bilhões, superando, em valor, as indústrias do cinema e da música juntas. A popularidade e o alcance massivo dos jogos digitais abriram uma janela de oportunidades para o product placement. Títulos de renome, como Fortnite e Call of Duty, tornaram-se plataformas ideais para a inserção de marcas, levando à projeção de que o mercado de PP em games poderia alcançar a cifra de $7 bilhões até 2025. Com jogadores de todas as idades e partes do mundo, os games hoje atraem uma audiência que supera a TV, o streaming, o cinema e o show business somados. A capacidade de os algoritmos inserirem marcas em contextos sempre favoráveis dentro desses jogos apenas potencializa essa estratégia de marketing.

No entanto, o universo das oportunidades para o PP vai além dos games. As marcas têm explorado novas formas de se conectar com seus consumidores por meio de soluções práticas que facilitam o dia a dia. Exemplos disso são os aplicativos desenvolvidos por empresas que visam resolver problemas específicos dos usuários, ao mesmo tempo que promovem suas marcas. Aplicativos como calculadoras de calorias (Walgreens), aplicativos de corrida (Nike), tábuas das marés (Sundown) e soluções de finanças domésticas (Bradesco) são representantes desse novo formato de PP. Eles oferecem utilidade e valor ao consumidor, enquanto promovem a marca de forma sutil.

Um case que merece destaque no Brasil é o projeto de bicicletas compartilhadas do Itaú. Com suas características bicicletas laranjas, elas estão presentes nas principais cidades brasileiras, promovendo não apenas uma alternativa de mobilidade urbana, mas também fortalecendo a imagem da marca Itaú como inovadora e comprometida com a sustentabilidade e bem-estar da sociedade.

Tendências Atuais e Futuras

A revolução digital trouxe consigo uma onda de personalização que continua a redefinir a forma como o conteúdo é apresentado ao público. Com os avanços na coleta de dados e na inteligência artificial, as possibilidades para o product placement estão se expandindo de maneiras anteriormente inimagináveis. Se considerarmos que a maioria dos assinantes da Netflix assiste através de dispositivos móveis, a capacidade de oferecer anúncios com base na localização geográfica do usuário se torna uma estratégia poderosa. Isso pode ir além de simples anúncios: imaginar cenários, marcas de roupas, modelos de carros e outros elementos sendo adaptados em tempo real de acordo com as preferências de um espectador não é mais ficção científica, mas uma realidade emergente.

Tal personalização pode transformar completamente a experiência de visualização, tornando cada episódio ou filme uma experiência única para o espectador. Esta abordagem não apenas aumenta a relevância do PP, mas também pode melhorar a imersão do espectador, já que as marcas e produtos apresentados se alinham mais estreitamente com seus gostos e realidade.

A presença marcante de PP nos programas originais da Netflix é um testemunho da eficácia desta estratégia. Longe de ser uma mera coincidência, essa incorporação intencional de marcas em conteúdos é uma maneira de gerar receita sem depender excessivamente de anúncios tradicionais. As marcas fazem parte da tapeçaria da vida cotidiana e, ao incorporá-las de maneira orgânica em narrativas, os criadores de conteúdo não apenas aumentam o realismo, mas também criam uma experiência mais envolvente e relevante para o público. E com a crescente capacidade de personalizar essas inserções, o céu é o limite para o futuro do product placement.

Conclusão

O product placement evoluiu de uma tática de nicho para uma ferramenta de marketing multimilionária. Com a ascensão das plataformas de streaming e do mercado de games, as oportunidades para o PP são infinitas e certamente continuarão a crescer nos próximos anos.